terça-feira, 7 de agosto de 2012

Nós dois podíamos ser um casal de novela das oito...


Nem precisava de alguém dizendo "luz câmera ação!" para começar a cena.
Fazia parte do cotidiano, eu, você, os gritos, e as marcas no chão para mostrar o mapa do percurso durante a discussão. 

Uma demonstração de ciúmes, uma resposta malcriada, e a troca de ofensas ensaiada. 

Lembro que alternávamos a saída triunfal. Ora eu que dizia a última palavra e ameaçava ir embora, dessa vez pra sempre, como das outras mil, com mala em punho. Ora era você quem deixava uma frase no ar e se trancava no quarto pelo resto da noite.

As suas pausas eram preenchidas com o acender de um cigarro. Eu só tragava quando achava que, puta que pariu, ia mesmo acabar, mesmo, lá no fundo do peito, tendo certeza que nosso último capítulo seria um casamento com passagem de tempo e filhos no colo.

Os dramas evoluíram de tal forma que berros seriam pouco para atrair a platéia. O prédio todo devia acompanhar a história. Precisaríamos ir além. Quebrar o cenário, discutir em público, envolver coadjuvantes.

Estava tudo no script. Tão bem internalizado que nem precisava de dália.
Nós dois éramos um casal que roteirizava a própria relação.

Devíamos ter montado uma produtora. Faríamos um curta, uma websérie, talvez um programa para o Multishow e alçaríamos os sucesso. Mas preferimos viver essa história como se fôssemos personagens criando vida, e não o contrário.

Mas nem no fim o show poderia parar.
A nossa novela acabou sem filhos, nem casamento no final e você começou outra.
Deixei de ser sua mocinha. Você se tornou meu vilão.

Se dependesse de você, teria espaço para várias tramas, mas para essa emissora não escrevo mais. Afinal, ainda tem muito canal aberto por aí.

Mas me sobraram notas de bons diálogos para criar um casal de novela das oito.

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